O Governo do Estado, por meio da Fundação José Augusto, entregou na terça-feira, 28, diploma do Registro do Patrimônio Vivo (RPV) a dois mestres da Cultura Popular Tradicional e a três grupos folclóricos potiguares. Receberam o certificado o poeta cordelista Antônio Francisco Teixeira de Melo (Antônio Francisco) e a mestra de Boi-de-Reis Dona Iza, e os grupos folclóricos Araruna – do bairro das Rocas em Natal, Boi Pintadinho – de São Gonçalo do Amarante e a Associação das Rendeiras de Bilros – de Ponta Negra.
O reconhecimento como RPV é previsto em Lei de autoria do então deputado estadual Fernando Mineiro, aprovada pela Assembleia Legislativa em 2007. A Lei do RPV, como ficou conhecida, concede bolsas de incentivo financeiro por parte do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. As bolsas são nos valores de R$ 1.620,00 (mestres individuais) e R$ 3.242,00 (grupos).
A escolha dos mestres e grupos folclóricos é feita em processo de seleção pública, levando em consideração as justificativas, os currículos dos candidatos, o mérito e a qualidade dos trabalhos executados, comprovando capacidade profissional ou institucional, em favor da cultura popular e tradicional norte-rio-grandense. O RPV é destinado a pessoas naturais ou jurídicas.
No ato de entrega a governadora Fátima Bezerra disse que “o que fazemos hoje é direito de cidadania cultural, não é favor. Estamos preservando a cultura, o Estado é que tem que agradecer a vocês que representam a resistência, a perseverança pela cultura do RN”.
A governadora acrescentou que o RPV é também “homenagem às gerações presentes, olhando para as passadas e estimulando as que virão. É contribuição e gratidão do Estado por tudo que vocês representam, os saberes e fazeres. As nossas belas tradições não podem morrer, precisam ser transmitidas geração a geração”.
Ex-deputado estadual e hoje secretário de Estado de Gestão de Projetos, Metas de Governo e Relação Institucionais, Fernando Mineiro registrou que “hoje é dia importante, especialmente para mim, que apresentei o projeto de Lei que criou o RPV, 14 anos atrás. Ainda hoje poucos Estados têm lei semelhante. O RN foi o segundo, o primeiro foi Pernambuco em reconhecimento a Ariano Suassuna. Me honra muito ter sido o autor. Como disse a Governadora, não é favor, é reconhecimento pela dedicação à preservação da cultura norte-rio-grandense e brasileira”.
O presidente da Fundação José Augusto (FJA), Crispiniano Neto, reforçou que o objetivo do RPV é “valorizar as manifestações culturais, não deixar se perder no tempo e repassar a tradição histórica aos mais jovens. É um ato de justiça. Mestres e mestras são a autoridade do saber do povo. Cumprimos uma Lei que vira política pública”.
Presidente da Comissão Nacional do Folclore, professor Severino Vicente disse: “temos uma governadora que é uma mulher guerreira e cuida da cultura do RN. Destaco a importância da Lei do deputado Fernando Mineiro para a salvaguarda da cultura popular em nosso Estado e no Brasil, também a dedicação da Fundação José Augusto no apoio às nossas tradições”.
Defensor da cultura popular e apoiador do grupo folclórico Araruna, o deputado Ubaldo Fernandes citou a proposição da Lei do RPV como atendimento aos pleitos do setor cultural e que passou a ser estímulo à continuidade dos trabalhos de resgate cultural. “Parabenizo Fernando Mineiro e o governo da professora Fátima Bezerra que mais uma vez mostra seu compromisso com o nosso povo, agora com a cultura popular”, declarou.
O processo de escolha dos indicados para RPV tem comissão julgadora integrada pelo presidente do Conselho Estadual de Cultura Iaperi Araújo, a professora Josileide Oliveira, representante da Secretaria de Educação, o folclorista Gutemberg Costa e o presidente da Comissão Nacional do Folclore Severino Vicente, além do Diretor-Geral da FJA Crispiniano Neto e do coordenador do Edital Max Medeiros.
O ato no auditório da Governadoria contou com a participação da secretária adjunta do Gabinete Civil, Socorro Batista, Josileide Oliveira, da SEEC, vereador Hermes Sena, representando a Câmara Municipal de Natal, Rita Almeida, vice-presidente da Comissão Norte-rio-grandense do Folclore, representantes da Casa do Cordel, Grupo Chegança, de Barra do Cunhaú, Fandango, de Canguaretama, Caboclinhos, de São Gonçalo do Amarante, do Museu da FJA.
OS HOMENAGEADOS
POETA ANTÔNIO FRANCISCO – Poeta cordelista, 72 anos, residente em Mossoró-RN, natural de Lagoa do Mato. Antônio Francisco tem sintetizado e divulgado a cultura nordestina por todo o Brasil, conseguindo enorme sucesso entre as massas; e, ao mesmo tempo, tendo seu talento reconhecido pela intelectualidade e pela crítica.
O reconhecimento da qualidade da sua produção levou-o a ser eleito, em 2006, para a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), onde ocupa a cadeira de número 15, cujo patrono é o poeta cearense Patativa do Assaré;
O poeta tem a sua obra ‘Os animais têm razão’ trabalhada em projeto pedagógico por várias escolas
DONA IZA (ODAIZA DE PONTES GALVÃO, MESTRA DE BOI-DE-REIS) – Mestra de Boi-de-Reis, 75 anos, residente em Natal-RN. Viúva do Mestre Manoel Marinheiro, assumiu o legado do Auto do Boi de Reis. Sempre ativa junto ao Mestre, herdou não apenas o seu saber da montagem do Boi, figurinos, adereços e personagens, mas o ritual, a dança, os cantos e as loas.
ARARUNA SOCIEDADE DE DANÇAS ANTIGAS – Grupo de dança folclórica de Natal-RN, cidade onde está sediado no bairro das Rocas. Iniciou suas atividades em 1949 quando o Mestre Cornélio (o seu fundador) utilizava o quintal de sua casa para os ensaios do grupo.
A dança Araruna tem influência das danças de salão, com origem europeia, mesclada com valsa, xote, dentre outros ritmos. Os homens vestem cartola e casaca e as mulheres, longos vestidos e saias rodadas. O acompanhamento musical é feito por sanfona e pandeiro e instrumento de percussão.
BOI PINTADINHO – Sediado em São Gonçalo – RN. Um dos grupos mais antigos do Rio Grande do Norte. Já foi fonte de pesquisa folclórica para Câmara Cascudo, Deífilo Gurgel e Mário de Andrade. Tem em sua história diversas participações em eventos nacionais de folclore.
São 25 integrantes em manifesto que gira em torno da morte e ressurreição do boi. No meio das apresentações, entram histórias de amor, traição e dramas.
ASSOCIAÇÃO DAS RENDEIRAS DE BILROS DE PONTA NEGRA – Sediada em Natal – RN. Surgiu a partir do encontro das rendeiras de bilro e dos pescadores na então vila que hoje é bairro. Vó Maria é a rendeira mais antiga, uma das pioneiras no ofício de rendar em bilro. As tramas constroem redes de pesca e as linhas constroem as rendas, que também constroem redes, e, assim, se entrelaçam as histórias das rendeiras de bilros e da vila de pescadores que virou bairro.
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