O Vaticano reconheceu o nome de mais duas beatas brasileiras em 2022. Neste mês, a mineira Isabel Cristina Mrad Campos teve uma cerimônia na cidade que nasceu, em Barbacena, para oficializar seu processo de beatificação. Já em outubro, foi a vez da cearense Benigna Cardoso da Silva, mais conhecida como menina Benigna, ter o título aceito pelo Vaticano. Além delas, relembre outros beatos do Brasil que estão à espera de virarem santos.
Isabel Cristina Mrad Campos
Isabel foi assassinada, em 1982, por um homem que tentou estuprá-la em Juiz de Fora, Minas Gerais. A jovem de 20 anos nasceu em Barbacena, mas havia se mudado no mesmo ano em que foi morta, para estudar em um curso pré-vestibular. O seu objetivo era cursar Medicina.
No dia 1º de setembro daquele ano, um homem contratado para montar um guarda-roupa no apartamento onde Isabel morava com o irmão tentou estuprá-la. Ela chegou a resistir, mas foi golpeada por uma cadeira na cabeça, antes de ser amarrada, amordaçada, ter as roupas rasgadas e ser morta com 15 facadas.
Menina Benigna
Benigna Cardoso da Silva morreu ainda mais jovem, aos 13 anos. Ela vivia no sertão de Santana do Cariri, no Ceará, e foi assassinada por um adolescente que a assediava. O título de beata já havia sido concedido pelo Vaticano à cearense em 2019, mas demorou a ser oficializado pelas autoridades católicas por conta da pandemia de Covid-19.
Assassinada a golpes de facão em 1941, a adolescente foi morta depois de recusar um rapaz de 17 anos que tentou violentá-la. Ela é aclamada como “heroína da castidade”, e foi lembrada pelo Papa Francisco, em outubro, durante a tradicional audiência geral que acontece na Praça São Pedro, no Vaticano, às quartas-feiras. Na ocasião, o pontífice saudou a jovem mártir, enfatizando que “o seu exemplo nos ajude a ser generosos”.
Dom Helder Câmara
O processo de beatificação do arcebispo de Olinda e Recife Dom Helder Câmara, morto em agosto de 1999, avançou no Vaticano em novembro. De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o decreto de validade jurídica do processo foi emitido, reconhecendo que todos os atos e documentação foram aprovados pelo Dicastério para a Causa dos Santos. Dessa maneira, o cearense fica a um passo de ser declarado venerável pelo Papa.
Um dos fundadores da CNBB, Dom Helder Câmara foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife em 12 de março de 1964, cerca de três semanas antes do início do golpe militar que deu início à ditadura no Brasil. Desde então, o religioso estabeleceu forte resistência ao regime, denunciando violações de direitos humanos cometidas pelas autoridades policiais.
Dom Helder morreu no Recife, aos 90 anos de idade. Pouco mais de 15 anos após sua morte, em 2015, foi aberto o processo de beatificação e canonização do arcebispo, com a autorização da Santa Sé — jurisdição eclesiástica da Igreja Católica em Roma. Neste mesmo ano, o religioso recebeu o título de Servo de Deus, a primeira designação na escala que vai até os santos.
Irmã Lindalva
Nascida em 1953 no Rio Grande do Norte, Lindalva Justo de Oliveira era assediada por um homem que foi acolhido pelo Abrigo Dom Pedro II, em Salvador. Lá, a freira potiguar prestava assistência a anciãos desabrigados. Após a recusa dela em se relacionar, ele a matou com 40 golpes de facão enquanto a mulher servia o café da manhã, em abril de 1993. O assassino se sentou na porta do abrigo e esperou a polícia chegar.
Em 2007, 14 anos depois do crime, ela foi beatificada em cerimônia acompanhada por mais de 25 mil fiéis. Os irmãos e a mãe de Lindalva, à época com 85 anos, também participaram da celebração. Por conta do martírio, não foi necessária a comprovação de milagres para que a irmã se tornasse beata. Sendo assim, o processo de beatificação dela foi considerado um dos mais rápidos da história.
Albertina Berkenbrock
Primeira mártir brasileira, Albertina foi morta em 1931, em Imaruí, município do interior de Santa Catarina. Filha de agricultores alemães, a garota foi assassinada com apenas 12 anos, após uma tentativa de estupro por um funcionário da fazenda do pai dela.
Mais de cinco décadas depois de a arquidiocese de Florianópolis dar início ao processo, sua beatificação saiu no dia 20 de outubro de 2007. Seu túmulo virou ponto de peregrinação de fiéis atrás de graças.
Caminho até a canonização
Para que alguém seja canonizado, é necessário ser aprovado em três etapas dentro da Igreja. Quando se abre a causa oficialmente, ainda na diocese, o postulante ao título de santo se torna servo de Deus. Na sequência, o processo segue para Roma e, se aprovado, o postulante vira venerável.
O passo seguinte é a comprovação de um milagre ou de um martírio, isto é, quando a pessoa prefere morrer a macular sua fé. Essa é a condição para se tornar beato, última etapa antes da canonização.
Para o beato ser finalmente declarado santo, é preciso comprovar um segundo milagre. Feita essa checagem, a Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano envia o processo para o Papa que canoniza o novo santo.
Fonte: Jornal O Globo